Depois de muito correr e tropeçar parei um pouco para recuperar o folêgo, respirar! Olhei à minha volta, o sol já se tinha posto há muito e a lua teimava em não chegar. Sentei-me naquela relva gelada. Finalmente um pouco de descanso depois de tremenda fuga! Ali naquele meu cantinho ninguém me incomodaria com olhares indiscretos. Sabia-me bem a brisa gelada a roçar-me na pele. Relembrava-me o teu toque que aos poucos e poucos tinha perdido a magia. Naquele lusco fusco, ali sentada, entregue a mim mesma, onde nem tu nem nada me encontraria! Senti o vento a levar-te, a varrer-te como se de lixo te tratasses. Não me incomodou nem um pouco, para ser sincera. Estava um pouco saturada da tua permanência constante. Tinha perdido a graça esta espera. Tinhas sido um dos meus inúmeros caprichos de menina mimada. Um no meio de muitos outros, foste apenas um momento, uma diversão, uma distracção do meu aborrecimento; mais nada! Provavelmente, também tu te cansaste. Cansaste-te das minhas artimanhas e ardis, de jogares nos meus jogos infantis. Beijar-te era mecânico, tocar-te: maçador! Vai e corre, meu amor, que aqui não és mais bem-vindo! A luxúria que mataste está morta e enterrada; sem possibilidade de ressurreição. Vai embora e tranca a porta, deixa-me aqui deitada. Larga-me, por favor, o caprichoso coração.