quarta-feira, novembro 15, 2006

Capricho

Depois de muito correr e tropeçar parei um pouco para recuperar o folêgo, respirar! Olhei à minha volta, o sol já se tinha posto há muito e a lua teimava em não chegar. Sentei-me naquela relva gelada. Finalmente um pouco de descanso depois de tremenda fuga! Ali naquele meu cantinho ninguém me incomodaria com olhares indiscretos. Sabia-me bem a brisa gelada a roçar-me na pele. Relembrava-me o teu toque que aos poucos e poucos tinha perdido a magia. Naquele lusco fusco, ali sentada, entregue a mim mesma, onde nem tu nem nada me encontraria! Senti o vento a levar-te, a varrer-te como se de lixo te tratasses. Não me incomodou nem um pouco, para ser sincera. Estava um pouco saturada da tua permanência constante. Tinha perdido a graça esta espera. Tinhas sido um dos meus inúmeros caprichos de menina mimada. Um no meio de muitos outros, foste apenas um momento, uma diversão, uma distracção do meu aborrecimento; mais nada! Provavelmente, também tu te cansaste. Cansaste-te das minhas artimanhas e ardis, de jogares nos meus jogos infantis. Beijar-te era mecânico, tocar-te: maçador! Vai e corre, meu amor, que aqui não és mais bem-vindo! A luxúria que mataste está morta e enterrada; sem possibilidade de ressurreição. Vai embora e tranca a porta, deixa-me aqui deitada. Larga-me, por favor, o caprichoso coração.

terça-feira, novembro 14, 2006

Metáfora

Segui pé ante pé cada passo que deste. Gosto de te observar. És o meu segredo. Escondo-me atrás de cada esquina e arbusto assim que me tentas ver. Não é hora de descobrires que aqui estou! Treinei horas a fio com o gato preto para que os meus passos não fizessem ruído algum. Para que a minha existência te passasse despercebida, incógnita. Para me poder deliciar com o teu cheiro. Com movimentos de veludo acariciei-te a pele mas és insensível ao toque. Não me vês, não me ouves, não me sentes! Dancei ao som da chuva e indaguei-te à luz da lua. Será que me viste quando me olhas-te? Pareces conhecer cada detalhe do meu íntimo, cada hábito extravagante, cada gosto insignificante, cada vicio ínfimo. Sabes dizer-me de cor. Sou o ser que para além de básico é simples e que tu tanto gostas de decifrar e prever.