domingo, outubro 29, 2006

A dança

Convenço-me de que está tudo bem num sorriso forçado que se desvanece ao virar as costas. Alimento o exorbitante orgulho dizendo que perdi por falta de comparência. É mentira! Compareci, lutei, perdi…Uma sensação de paz podre, apenas aparente…Uma calma ficcionada pela fértil imaginação do orgulho ferido. Fecho-me no meu mundo e movo-me numa dança ritmada pelo compasso da mentira que tanto condeno e abomino. Os passos que deviam ser fortes e decididos são fracos e cobardes. O compasso é lento, quase morto. Tento saltar mas as pernas não me acompanham e caio no chão: frágil, indefesa, insana! Tento pedir ajuda mas a voz é suprimida, mais uma vez, pelo medo. Levanto a cabeça e olho o espelho, não reconheço quem lá está. Um ser que perdeu o ritmo e já há muito esqueceu os movimentos em que se criou, perdi as origens!
Olho cada centímetro do meu corpo como se a outrem pertencesse; não o sinto. Respiro. Levanto-me a custo e movo-me por impulsos involuntários que me fazem rodopiar até à exaustão. Caio de novo, é inútil tentar…Danço a dança de quem não sabe dançar.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Efemeridade

Agarra-me com o teu calor. Vicia-me no teu beijo e mente-me! Mente-me como se eu acreditasse. É só por esta noite, eu deixo…Gosto da efemeridade em que consiste o teu toque. Dá-me apenas uma desculpa para te poder devorar agora. Apenas no agora deste frágil momento! Porque no amanha já não existimos. O amanhã é apenas a frágil utopia em que me agarro para justificar os meus actos pecaminosos, desprovidos de senso, infiéis! Apenas pelo chamamento da carne insana. Alimenta a minha insanidade só por hoje. Um efémero momento é o que te peço. Cura-me um pouco do vício! Mente-me!

segunda-feira, outubro 16, 2006

Mentira

Olhava a ponta dos meus sapatos como se mais nada houvesse para olhar! Sentia-te…mas não te via. Tinha medo! Olhei-te nos olhos com a inocência que já não possuo, e foi então que eles me perguntaram o que eu mais temia! Menti-te! Menti-te tanto quando proferi tais palavras mas não havia outra maneira. Tu olhavas-me mas não me vias! Gritei-te a resposta, com o olhar, na vã esperança que a entendesses; não entendes-te, nem sequer fizes-te um esforço. Assumiste como incontestável verdade as palavras insípidas que te atirei. Sentias-me…mas não me vias. Ainda hoje te grito a plenos pulmões o que deveria ter dito mas não disse. Tu continuas a não entender, a não ouvir! Para ti são meros sussurros. Para ti continuo a não existir, sou apenas uma sombra como tantas outras que se movimentam à tua volta na esperança de nalgum breve instante captar a tua atenção. O meu eterno orgulho impede-me de ter uma pouco do teu efémero carinho mas bem sei que não é a mim que ele pertence...Tu continuas a sentir-me...mas não me vês!